No curto prazo, deve ser bom
ter a “amizade” do rei, do chefe, do patrão ou do mais forte, ainda que
injustiças sejam cometidas. Todavia, a história nos mostra que, no longo prazo,
o que era bom se torna ruim, uma vez que a cumplicidade de outrora cobra seu
preço. No caso brasileiro, o rei é, desde sempre, o governo, independente do
partido político que esteja no poder.
A todo tempo, lemos notícias dando conta de pressões e
chantagens políticas e financeiras que burocratas do governo – geralmente o
ministra da fazenda -, fazem a grupos de empresários para que façam ou deixem
de praticar algo que desagrade ou traga algum ônus político ao governante de
plantão. Se se tratar de ano eleitoral, a chantagem – para não dizer extorsão –
é explícita, a depender das necessidades que o cálculo político impõe.
E, não por acaso, por estarmos vivendo um período eleitoral,
as práticas citadas acima avultam no cenário político. A última chantagem foi
feita pelo atual ministro da fazenda, Guido Mantega, aquele que se denominou de
“levantador de PIB”, em entrevista recente. Sem se dirigir especificamente a
qualquer uma das montadoras de veículos, a referida “autoridade” disse, por
meio de sua assessoria, que não iria “tolerar” o descumprimento dos acordos de
não demissão nos setores beneficiados por redução do IPI, entre eles o
automotivo e o de linha branca (máquinas de lavar, geladeiras e fogões).
Além das eleições, a fala do ministro reflete o receio das
consequências da crise econômica mundial em terras tupiniquins – ainda que se
fale em “marolinhas”. Vale dizer que, apesar de a chantagem feita, por si só,
ser algo deletério, a estratégia adotada, de aumento do consumo mediante a
redução das taxas de juros e de impostos, segundo alguns dos mais importantes
economistas, está equivocada, já que a renda dos trabalhadores brasileiros se
encontra bastante comprometida, situação que acarreta num maior endividamento
da população, crescendo a taxa de inadimplência que, por sua vez, faz com que
os bancos cobrem mais pelo empréstimo de capital, o que significa o retorno de
juros mais altos.
Se, de um lado, temos um governo que sempre buscou intervir
na economia brasileira – e os últimos anos têm inúmeros exemplos -, do outro, o
empresariado, de forma geral, mostra-se suscetível a acordos, ainda que isso
custe a sua liberdade no longo prazo, como se vê agora, já que a decisão de se
demitir alguém, deveria ser, exclusivamente, da empresa, sem que o governo
opinasse ou pressionasse. Entretanto, como este, via de regra, empresta
dinheiro público (BNDES), para a expansão e a produção de certos setores,
estes, outrora aliados, veem-se relativamente aprisionados aos (des)propósitos
governamentais. O problema está justamente nessa união espúria: o mercado, para
que funcione corretamente ou da melhor forma possível, isto é, de forma justa e
competitiva, de sorte a premiar os mais eficientes, para que venha a fornecer
produtos melhores e mais baratos aos consumidores, não pode sofrer
interferências de entes alheios ao cálculo econômico.
Está cabalmente demonstrado que um governo cada vez mais
ativo na economia produtiva só é capaz de trazer problemas a longo prazo,
conquanto privilegie alguns setores com impostos menores. Por ser governo e se
manter pela arrecadação de tributos, se ele diminui de um lado, compensa com o
aumento em outros setores, o que causa desequilíbrios. Pelo lado dos
produtores, estes deveriam observar que quando fazem alianças e acordos com o
governo – ainda que premidos pelos impostos -, perdem a liberdade para
estabelecer as condições em que criam mercadorias, aspecto essencial para que
se possa produzir da forma mais eficiente possível. Por último – e sempre por
último -, os consumidores. Ora, se as empresas que fazem os acordos são os
amigos do Rei, os consumidores são seus inimigos.
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