domingo, 5 de agosto de 2012

Os amigos e os inimigos do Rei


No curto prazo, deve ser bom ter a “amizade” do rei, do chefe, do patrão ou do mais forte, ainda que injustiças sejam cometidas. Todavia, a história nos mostra que, no longo prazo, o que era bom se torna ruim, uma vez que a cumplicidade de outrora cobra seu preço. No caso brasileiro, o rei é, desde sempre, o governo, independente do partido político que esteja no poder. 
         A todo tempo, lemos notícias dando conta de pressões e chantagens políticas e financeiras que burocratas do governo – geralmente o ministra da fazenda -, fazem a grupos de empresários para que façam ou deixem de praticar algo que desagrade ou traga algum ônus político ao governante de plantão. Se se tratar de ano eleitoral, a chantagem – para não dizer extorsão – é explícita, a depender das necessidades que o cálculo político impõe.
         E, não por acaso, por estarmos vivendo um período eleitoral, as práticas citadas acima avultam no cenário político. A última chantagem foi feita pelo atual ministro da fazenda, Guido Mantega, aquele que se denominou de “levantador de PIB”, em entrevista recente. Sem se dirigir especificamente a qualquer uma das montadoras de veículos, a referida “autoridade” disse, por meio de sua assessoria, que não iria “tolerar” o descumprimento dos acordos de não demissão nos setores beneficiados por redução do IPI, entre eles o automotivo e o de linha branca (máquinas de lavar, geladeiras e fogões).
         Além das eleições, a fala do ministro reflete o receio das consequências da crise econômica mundial em terras tupiniquins – ainda que se fale em “marolinhas”. Vale dizer que, apesar de a chantagem feita, por si só, ser algo deletério, a estratégia adotada, de aumento do consumo mediante a redução das taxas de juros e de impostos, segundo alguns dos mais importantes economistas, está equivocada, já que a renda dos trabalhadores brasileiros se encontra bastante comprometida, situação que acarreta num maior endividamento da população, crescendo a taxa de inadimplência que, por sua vez, faz com que os bancos cobrem mais pelo empréstimo de capital, o que significa o retorno de juros mais altos.
         Se, de um lado, temos um governo que sempre buscou intervir na economia brasileira – e os últimos anos têm inúmeros exemplos -, do outro, o empresariado, de forma geral, mostra-se suscetível a acordos, ainda que isso custe a sua liberdade no longo prazo, como se vê agora, já que a decisão de se demitir alguém, deveria ser, exclusivamente, da empresa, sem que o governo opinasse ou pressionasse. Entretanto, como este, via de regra, empresta dinheiro público (BNDES), para a expansão e a produção de certos setores, estes, outrora aliados, veem-se relativamente aprisionados aos (des)propósitos governamentais. O problema está justamente nessa união espúria: o mercado, para que funcione corretamente ou da melhor forma possível, isto é, de forma justa e competitiva, de sorte a premiar os mais eficientes, para que venha a fornecer produtos melhores e mais baratos aos consumidores, não pode sofrer interferências de entes alheios ao cálculo econômico.    
         Está cabalmente demonstrado que um governo cada vez mais ativo na economia produtiva só é capaz de trazer problemas a longo prazo, conquanto privilegie alguns setores com impostos menores. Por ser governo e se manter pela arrecadação de tributos, se ele diminui de um lado, compensa com o aumento em outros setores, o que causa desequilíbrios. Pelo lado dos produtores, estes deveriam observar que quando fazem alianças e acordos com o governo – ainda que premidos pelos impostos -, perdem a liberdade para estabelecer as condições em que criam mercadorias, aspecto essencial para que se possa produzir da forma mais eficiente possível. Por último – e sempre por último -, os consumidores. Ora, se as empresas que fazem os acordos são os amigos do Rei, os consumidores são seus inimigos.

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