quinta-feira, 7 de junho de 2012

Lula e sua peculiar luta de classes

Um dos sites de política que leio é o da Carta Maior. Devo dizer, entretanto, que de uns tempos para cá não consigo mais concordar com a visão dos articulistas que lá labutam. Regra geral, é um blog socialista. Mas do ponto de vista da política partidária brasileira, é um site governista e lulista. A começar pela propaganda da Petrobras no alto, um forte indicativo de que há pouco espaço para críticas ao governo federal; no máximo há uma maledicência velada e bem comportada. É lulista porque, para todo esquerdista, Lula é um semi deus (se não for um deus mesmo), indefectível e insuperável, um mito que ficará para a história política brasileira, ainda que se possa questionar suas razões para tanto. É claro que, para alguns radicais, como os trotskistas, Lula é um traidor de classe, burguês, etc, mas isso é sectarismo. 
Este último aspecto está aduzido num texto do blog de um cientista social chamado Emir Sader. Intelectualmente falando, tem pouca relevância. Seus livros tratam de questões genéricas (América Latina, nacionalismo, neoliberalismo), sem o necessário rigor que tais temas exigem; ou seja, seus trabalhos carregam um caráter panfletário notório. E nesse ponto, acredito que este senhor encontrou um terreno ideal para espalhar suas ideias e amealhar seus seguidores: seu blog (http://www.cartamaior.com.br/templates/blogMostrar.cfm?blog_id=1&alterarHomeAtual=1).
Seu penúltimo texto, publicado no dia 02/06/2012 e denominado "O dedo de Lula", é um libelo contra as "zelites" brasileiras, no estilo mais virulento possível, valendo-se da imagem mito de Lula, um cavaleiro em sua luta contra as deletérias ações das elites contra o povo. Diga-se de passagem, que o recorte do autor é racial, isto é, trata das "zelites" brancas, como se representassem tudo de ruim que há no Brasil, sem considerar as matizes ideológicas que estão por trás de seus posicionamentos nos mais diversos assuntos. É como se um José Sarney pensasse da mesma forma que o FHC, o Pedro Simon ou o Getúlio Vargas. De acordo com o desarticulado articulista, a elite paulista, em especial, "representa melhor do que qualquer outro setor esse ranço racista", já que nunca teriam assimilado a "Revolução de 30". Uau, chamar um golpe de estado de revolução é algo bem ao gosto dos milicos, não? Seria uma revolução apenas porque tinha uma posição mais "progressista" aos olhos do autor, a qual apontava para a industrialização do país, ainda que às custas da primeira ditadura brasileira (1937-1945)? Se assim for, poder-se-ia considerar a Ditadura Militar também um movimento progressista, já que foi um período pródigo em instalação de indústrias pesadas e obras de infra estrutura. Além disso, tenho uma impressão diferente dessa sempre vou até a capital paulista. Apesar de não ser fã de metrópoles e da correria de seu cotidiano, os paulistanos - da elite ou não - sempre me parecem indiferentes às etnias, origens e características de cada um, uma atitude de indiferença - um tanto blasé também - com relação aos outros. Diferente é o que acontece quando se vai a uma capital nordestina no sulina, quando lá se percebe um forte traço regionalista ou ligado à etnia, com seus moradores sempre prontos a defenderem os valores locais e étnicos, ainda que o façam de forma exagerada e mentirosa.
Sem entrar na biografia de Lula, já que nunca li uma mesmo, o blogueiro o caracteriza como "nordestino, não branco, operário, esquerdista e líder popular". Ora, Lula é nordestino de nascimento apenas, já que se mudou para o Guarujá - e depois para São Paulo - aos 7 anos de idade, na conhecida viagem de 13 dias em um pau-de-arara. Não branco? Que raio é isso? Só sei que pardo e negro ele não é. Quem souber me dizer o que é um "não branco" me ajude com isso. Operário ele deixou de ser desde que se aposentou por invalidez permanente após perder um dedo no trabalho. Quando ao fato de ser esquerdista, conquanto não se possa negar isso se analisarmos as decisões políticas adotadas pelo seu governo - em que pese as contradições de sempre -, ele mesmo já declarou diversas vezes que não seria exatamente de esquerda; pessoas de seu círculo social já confirmaram inúmeras vezes. Ao meu ver, Lula, assim como todos os políticos, quer poder, independente do lado do espectro político que estiver. Ainda mais em um país em que o estado é tão grande e poderoso ante seus cidadãos. Quem duvidar disto, leia a reportagem da revista Época sobre as empresas estatais no Brasil (http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI240676-15223,00-ESTADO+LTDA.html). Quanto ao fato de ser um líder popular, não há a menor dúvida a respeito disso. Seu populismo exacerbado e irracional o elevou à condição de mito popular, de pai dos pobres, o homem que refundou o Brasil. Numa figura, o macunaíma brasileiro, o herói sem nenhum caráter. 
Um último aspecto que gostaria de tratar é sobre o "ódio de classe", este derivado claramente da ideia de luta de classes, conceito marxista. Ainda que não tenha dito, Sader deve ter pensado nesta ideia baseado na separação que Marx e Engels fizeram no Manifesto Comunista, colocando de um lado a burguesia, proprietária dos meios de produção e, de outro, o proletariado de um modo geral, expropriados de seus instrumentos, restando-lhes apenas sua força de trabalho, i.e., seu próprio corpo. Supondo que seja isso, já que seu panfletarismo não permite que exponha com o mínimo de rigor seu raciocínio, fica difícil colocar o Lula como um defensor dos proletários, hoje trabalhadores ou, politicamente corretamente falando, os colaboradores. Sem me alongar demasiadamente nisso, lembro-me que Lula recebeu R$ 200 mil de uma empresa - acho que da Samsung ou da LG - para dar uma palestra aos seus executivos. Ora, isso é representar a classe trabalhadora? No máximo, poderia dizer que ele representa a aristocracia operária, recuperando Lenin. 
Como disse acima, Lula nada tem de esquerdista; tornou-se um líder sindical e tomou gosto pelo poder - e como tomou! Sim, seu governo adotou políticas esquerdistas - keynesianismo na economia (gastos públicos para aquecer a demanda), protecionismo, etc) e "tudo pelo social" (bolsas para empresários e necessitados, cotas, etc) na política. Mas a pessoa de Lula esteve, está e sempre estará preocupado é com as próprias eleições, para que continue a mamar nas tetas do estado, este ente criado para que alguns possam viver a custa do trabalho dos outros, como bem admoestou F. Bastiat há mais de 150 anos atrás.  
De qualquer sorte, para quem acha mesmo que Lula é tudo o que o inábil articulista falou, dê uma olhada na foto abaixo, na qual está estampada o ódio de classe da elite brasileira com relação a Lula e à classe trabalhadora. 


Lula e seus inimigos de classe
   

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