sábado, 25 de fevereiro de 2012

Imprensa manipuladora e sensacionalista: o que nos resta?

         O júri de Lindenberg Alves na semana passada em Santo André (SP) fomentou emoções e manifestações das mais variadas possíveis. Críticas à atuação da advogada do acusado, polêmicas acerca da pena aplicada pela juíza do caso, além de ataques à cobertura da imprensa, tanto na época do assassinato de Eloá Pimentel, quanto do desenrolar do tribunal do júri. Apesar de o tema ser eminentemente jurídico, gostaria de aprofundar nas críticas ao desempenho da imprensa, aqui entendida em seu sentido mais amplo.
         A atuação jornalística é caracterizada conforme o momento histórico do Brasil. Alguns já a consideraram como um quarto poder da República, dado sua atividade fiscalizadora, outros a veem como fonte de manipulação, dada a ocorrência de alguns casos notórios e ainda há aqueles que a compreendem como parte de um processo de alienação juntamente com muitos outros programas veiculados nos canais. Ou seja, em meio a este caldo de expressões e significados, o certo é que a imprensa de uma forma geral, alicerçada na liberdade de imprensa e no direito de informar, não pode ter sua atividade completamente cerceada por possíveis abusos ou equívocos. Inobstante parecer um truísmo, momentos de grande comoção, como os quatro dias do júri popular, trouxe à baila numerosas críticas à imprensa. De fato, alguns abusos foram cometidos durante a transmissão do cárcere privado e da morte da vítima; houve até uma situação inédita: durante o sequestro, uma equipe de tevê chegou ao cúmulo de realizar uma breve entrevista com Lindenberg. Apesar disso, notadamente um excesso, as críticas à imprensa, taxando-a de sensacionalista ou tendenciosa, produzem um sentimento de descrédito geral em seus órgãos, como se não restasse outra opção a não ser a punição e o controle rigorosos.
         Uma questão interessante a ser pensada é a ideia de que a imprensa contribui para alienar e manipular a população. Para começar, são conceitos vagos, bem ao gosto daqueles que os utilizam. Logo, basta proclamá-los por aí que o trabalho estará feito. Existem casos de manipulação? Sem dúvida. O último exemplo internacional é o tabloide comandado por Rupert Murdoch que ultrapassou os limites da ordem. Entretanto, pôr a pecha de alienante e manipuladora a toda a imprensa é algo pior do qualquer deslize que ela possa vir a cometer. Fazendo isso, o que restaria à população? Acreditar e se informar por quais meios? Agências estatais? Parece que, na verdade, o que há é uma transformação da imprensa, especialmente de sua forma de atuação. Se antes havia um jornalismo sob a égide de uma pseudo imparcialidade – obviamente inatingível, conquanto fosse confortável imaginar que seria possível alcançá-la –, hoje temos órgãos e instituições jornalísticas que opinam sobre os mais variados assuntos, inclusive sobre política, moral e até futebol. Isto é, as empresas que veiculam informações passaram a tomar partido mais abertamente dos temas expostos. Pode parecer estranho ou imoral para alguns espíritos mais ingênuos, mas isso acontece há muito tempo em países como EUA e Inglaterra. Lá todos sabem, ou ao menos têm alguma ideia, de qual canal de televisão ou jornal impresso é a favor de determinada política, favorável ou não ao aborto ou à concentração do poder.
         A imprensa de um modo geral é igualmente acusada de ser sensacionalista no que toca à cobertura dada a certos fatos, mormente aqueles negativos, como tragédias familiares. Ora, malgrado os exageros que se vê por aí, é importante consignar que as notícias são feitas por pessoas com sentimentos, interesses e perspectivas próprias. Se o “problema” é a busca “desenfreada” pelo ibope, o qual possibilitaria maiores lucros, ainda bem que seja assim. O lucro, em qualquer área da atividade humana, é o motor que dinamiza a inovação, seja nas coberturas jornalísticas, seja na inclusão de novos equipamentos, seja nas discussões sobre o que é moral no trabalho da imprensa. De qualquer forma, basta ao telespectador mudar de canal e procurar algo mais próximo de seus interesses. Do contrário, o que nos resta?

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