domingo, 8 de abril de 2012

Crônica de uma queda anunciada

Este texto não é sobre política, mas passa por ela; não é sobre economia, mas tem um pouco dela. É sobre a queda do glorioso XV de Jaú, descenso mais que anunciado desde o início do campeonato. Embora não adiante chorar pelo leite derramado, esse leite é muito precioso e representativo para os torcedores que há muitos anos aguentam as agruras que o XV nos proporciona.
Se alguém lhe falar bem da história recente do XV - peguemos os últimos 20 anos, o que não é pouca coisa -, certamente estará mentindo ou enganado. Se bem me recordo, seu último momento de destaque foi no ano de 1996 quando jogou a primeira divisão do campeonato paulista. Lembro-me de ter ganhado de 2 a 0 do Santos FC, que contava com o talentoso Giovanni. Uma partida memorável. Depois disso, quedas para a segunda e terceira divisões. Ora subia, ora descia. Há algum tempo estava estagnado na terceira divisão. Agora não mais.
Os problemas que o XV enfrenta há muitos anos são típicos dos times interioranos. Isso é fato, contudo alguns times menores têm surpreendido pela capacidade de se manter, ainda que a duras penas, na primeira divisão. É o caso do Oeste de Itápolis e, mais recentemente, do Linense e da Catanduvense. Vejamos, são cidades comuns, não tem nada que as diferencia de outros municípios do interior paulista, têm suas economias baseadas em um ou dois produtos e têm prefeituras que apoiam o time, embora não seja possível colocar isso como fator preponderante para o sucesso de suas equipes. 
Quais seriam os motivos que levaram o XV a se manter na terceira divisão há tanto tempo e, pior, cair para a quarta? Do ponto de vista da política, existe um claro desinteresse do empresariado local em apoiar o time. Além dos problemas de falta de investimento, cria-se um vácuo para que qualquer pessoa assuma a direção do time, seja ele preparado ou não, capacitado ou não, bem intencionado ou não. Isso não significa que os últimos presidentes fossem necessariamente ruins, mas friso que esta situação de "vácuo de poder" a entrada de aventureiros de plantão. Afora isto, as últimas administrações municipais pouco fizeram pelo time. Não acho correto colocar dinheiro no time, uma vez que os impostos pagos pelos cidadãos não tem tal finalidade, porém poderia haver algumas parcerias e convênios que desonerassem algumas atividades extracampo que são custosas, como o transporte para os jogos, alimentação dos atletas, serviços burocráticos cotidianos. Enquanto algumas prefeituras veem nessa relação uma forma de prover um auxílio ao time, que reflete na própria cidade - e também dividendos políticos, já que os torcedores provavelmente lembrarão desta atitude na próxima campanha eleitoral - as últimas administrações públicas de nossa cidade preferiram não iniciar qualquer tipo de diálogo, demonstrando má vontade e desprezo pela história do clube.
Pensando a partir da economia, todo time vencedor necessita de uma gestão profissional. Isto significa pessoas formadas e capacitadas para atuar em seus devidos postos na parte administrativa do clube. Há que se reconhecer o empenho que na parte jurídica a atual administração foi exitosa, conseguindo fazer acordos judiciais para dirimir a quantidade ações e penhoras que visavam o patrimônio quinzeano. Contudo, nas outras áreas a dinâmica continua mesma de 20 anos: pessoas experientes e capazes em seus setores da atividade econômica, porém sem vivência no futebol; administradores voluntariosos, mas sem a devida qualificação e, principalmente, a nefasta mania de o presidente assumir as dívidas - quando as assume - em seu nome. Quando isso acontece - a mistura do "público" (clube) e do privado (patrimônio pessoal) -, eis aí o pior dos mundos. Se um político faz isso, dá-se o nome de patrimonialismo e perde-se em todos  os aspectos da administração: transparência, credibilidade, profissionalismo, etc. No caso do XV, patrimônio pessoal e do clube se confundem, de sorte que o mandatário se sente no direito de tomar de volta aquilo que investiu, ainda que não devesse. 
Por mais que digam e exaltem a coragem de que fulano teve ao assumir o XV de Jaú, um time afundado em dívidas, a junção do "vácuo no poder" e da administração personalista nunca trouxe alegrias aos torcedores, ao menos nunca ensejou períodos duradouros de sucesso; sempre foi algo mais próximo do "voo da galinha", apenas uma fase, algo passageiro.
De qualquer forma, para se repensar tudo o que tem acontecido no XV nos últimos 20 anos, é importante aprender com os times que alcançaram alguma estabilidade e tiveram boas fases nos últimos anos. Julgo um bom começo.

  

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