domingo, 8 de julho de 2012

O perigo do monopólio da virtude


          A cena de Lula e Maluf abraçados – além de Haddad – pode ter chocado alguns espíritos ingênuos. Para aqueles que nunca acreditaram no projeto político do PT, foi apenas mais um episódio de um projeto de lutar pelo poder, que há anos vem se tornando cada vez mais evidente. A rigor, a surpresa só pode ser fruto de uma foto que escancara a promiscuidade, já que o partido de Maluf apoiou o governo Lula desde o começo.
            Para além destas questões, a busca pelo poder a qualquer custo por parte do PT – claro que os outros partidos políticos fazem o mesmo -, expressa a visão de que políticos e burocratas têm da vida e da política. E me refiro à este partido em especial porque a visão dos agrupamentos de esquerda, principalmente no Brasil, guardam para si o monopólio da virtude. Isso significa que, por mais que errem, façam alianças espúrias, sejam condescendentes com a corrupção, tomem decisões econômicas equivocadas e ultrapassadas, tudo será justificado pelo final a ser alcançado, seja o estado de Bem-Estar Social, seja o socialismo, este último um tanto fora de moda. Se este é o fim, o objetivo a ser perseguido, vale qualquer coisa, já que é um apenas um meio para atingir um bem maior. De fato, a lógica subjacente a isso tudo é a mesma desde sempre; ocorrem-me, agora, os expurgos stalinistas, quando aqueles que se tornavam um entrave ao “projeto socialista” eram mortos ou enviados aos campos de trabalhos forçados. Ou antes ainda, sob o império de Lenin, que defenestrou muitos intelectuais críticos ao processo revolucionário e, por um tempo, até adotou medidas capitalistas – o taylorismo – para o “bem” da revolução – plano industrialização + soviets -, sob a escusa de “dar um passo atrás, para caminhar dois à frente depois”.
Dos campos de trabalhos forçados na Sibéria até a aliança com o notório corrupto Maluf, apenas o modus operandi mudou. Não se fala mais em revolução armada, não se busca o confronto direto; buscam-se outras formas de chegar ao poder – inclusive a democrática. Porém, a lógica que inspira tudo isso permanece: tudo se justificava se a ação é virtuosa. E a virtude é monopólio da esquerda; é a luta maniqueísta do bem contra o mal, do proletariado contra o burguês, do negro contra o branco, do subdesenvolvido contra o desenvolvido. Não há nuances nesta história, por mais complexa e contraditória que seja.
Desse modo, se um partido de esquerda – geralmente o PT, já que os outros têm pouca relevância atualmente -, toma uma atitude errada, como aumentar os impostos – em que pese tal mentalidade não ser exclusividade deste partido, infelizmente -, mesmo que venha penalizar os mais humildes, por ser feito, supostamente, em nome destes, não há que se criticar. É como se fossem seres ungidos pela sabedoria divina, com a qual podem fazer o bem comum. O estado, para estes, encarna a razão suprema e infalível e, somente por meio dele, pode-se chegar ao paraíso terreno, que alguns denominam socialismo.
O mais curioso – e bizarro – disso tudo, é que Marx e Engels, especialmente estes, sempre conclamaram pelo fim do estado, o “comitê da burguesia”. Seus herdeiros atuais fazem o oposto: defendem este ente o máximo que podem, sobretudo porque auferem lucros e garantem o emprego dos companheiros. O perigo disso tudo é o fim da democracia, do pluralismo e dos direitos individuais, elementos capitais para a vida em sociedade. 

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