Nelson Motta
Desde a queda do Muro de
Berlim o mundo discute o assunto a sério, mas a última gargalhada foi de Paulo
Maluf, depois do seu histórico encontro com Lula: "Não existe mais isso de
esquerda e direita".
Assim como o patriotismo é o
último refúgio dos canalhas, Maluf e Lula sabem que no Brasil malandro de hoje
a ideologia se tornou o melhor abrigo para a preguiça, a incompetência e a
ladroagem. Tudo pela causa, mas primeiro quero o meu.
Já a direita, coitada, não
tem causa, só efeitos e defeitos: nada que contraria a esquerda pode ser bom.
Um Brasil dividido entre os justos da esquerda e os malvados da direita é o
fruto podre da ignorância e da propaganda.
Há 40 anos diziam que a
esquerda comia criancinhas. Hoje é a direita que come. Lula e Zé Dirceu
continuam culpando-a por tudo de ruim que acontece no Brasil e querem que
acreditemos que tudo de bom foi obra deles. Para eles, e para Maluf, não há
mais conservadores, liberais e radicais na política: como nas tribos
pré-históricas, renascidas no primitivismo das torcidas organizadas, agora é
tudo no "nós contra eles", como nas guerras sindicais.
O Brasil teve grandes
avanços econômicos e sociais nos últimos tempos, mas empobreceu dramaticamente
nos seus quadros políticos. Enquanto os representados melhoraram, os seus
representantes, com cada vez menos exceções, só pioraram. E o País cresce,
apesar deles.
Mas vamos ser sinceros: o
que seria de nós, cronistas, sem eles? Quantas gargalhadas os leitores
perderiam? Quantas histórias constrangedoras de personagens ridículos não
seriam contadas? Quanta sordidez humana ficaria escondida? Porque eles são a
crônica viva de nosso tempo para as futuras gerações.
Quando os meus netos e
bisnetos lerem, ouvirem ou assistirem no cinema em 3D a história política,
social e policial de Paulo Maluf, dos seus anos dourados na ditadura e queda do
muro do Jardim Europa ao lado de Lula, entenderão melhor o Brasil da geração do
seu avô e o que legamos para eles. Sentirão vergonha e repugnância, mas vão se
divertir muito com as cenas de comédia e os shows de cinismo do satânico doutor
Paulo.
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